Órgão ligado à ONU diz que há fome generalizada em Gaza e culpa Israel; 'Mentira descarada', diz Netanyahu

  • 22/08/2025
(Foto: Reprodução)
ONU declara oficialmente que existe fome generalizada em Gaza A principal autoridade mundial em crises alimentares e ligada à ONU anunciou nesta sexta-feira (22) que há fome generalizada na Faixa de Gaza, o primeiro caso do tipo no Oriente Médio, e que esse cenário foi construído por Israel. O governo israelense negou e repudiou o relatório, que chamou de "falso e distorcido". Esse nível de fome foi identificado na Cidade de Gaza, a maior do território palestino e alvo de uma nova operação terrestre do Exército israelense. Ainda poderá se expandir para o restante do território nos próximos meses se a situação atual não mudar, segundo a Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês). ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp "Há fome generalizada em Gaza, em pleno no século 21. Uma fome que se desenvolve sob o olhar de drones e da tecnologia mais moderna. Uma fome promovida abertamente por alguns líderes israelenses como uma arma de guerra. A fome de Gaza é prevenível, algo que se desenvolveu sob o nosso olhar e deve nos assombrar", afirmou o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Tom Fletcher. "É uma fome causada pela crueldade, justificada com vingança, habilitada pela indiferença e sustentada pela conivência. Chega. É necessário um cessar-fogo e a abertura das fronteiras. É tarde demais para muitos [palestinos]. Deixem-nos entrar [em Gaza]", completou. Em julho, o IPC disse que a fome no território havia atingido a fase 5, a mais grave possível e considerada "catástrofe humanitária". Organizações humanitárias alertam há meses que as restrições impostas por Israel à entrada de alimentos e outros suprimentos em Gaza, somadas à ofensiva militar, estavam agravando sem precedentes a crise humanitária no enclave e causando níveis elevados de fome entre palestinos, especialmente crianças. Segundo o IPC, ao menos 132 mil crianças com menos de cinco anos correm risco de morrer por desnutrição aguda —esse número dobrou desde maio e inclui mais de 41 mil casos graves. No total, há mais de meio milhão de palestinos passando fome extrema, segundo a ONU. Mais de 200 pessoas morreram de fome em Gaza desde o início do conflito, ainda de acordo com as Nações Unidas. Enfático em discurso nesta sexta, Fletcher afirmou que o relatório do IPC "é uma prova inegável de uma fome evitável", causada por "obstrução sistemática israelense" da entrada de ajuda em larga escala em Gaza. O subsecretário disse ainda que há toneladas de comida parada na fronteira, impedida de entrar no território. Em resposta, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, chamou o relatório do IPC de "mentira descarada". Já o Ministério das Relações Exteriores israelense afirmou que o documento foi "fabricado sob medida" para servir de campanha para o grupo terrorista Hamas, e afirmou que o órgão especializado em segurança alimentar mente para difamar Israel. "Não há fome em Gaza. IPC, pare de mentir. Todo o documento do IPC baseia-se em mentiras do Hamas, recicladas por organizações com interesses próprios. (...) Relatórios e avaliações anteriores do IPC já se mostraram repetidamente imprecisos e não refletem a realidade no terreno", afirmou o ministério em publicações no X. "As leis da oferta e da demanda não mentem — o IPC, sim. Todas as previsões que o IPC fez sobre Gaza durante a guerra se mostraram infundadas e completamente falsas. Essa avaliação também será jogada na desprezível lata de lixo dos documentos políticos", disse ainda. Crianças palestinas esperam para receber comida de ONG em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, 21 de agosto de 2025. REUTERS/Hatem Khaled TPX IMAGENS DO DIA Reuters/Hatem Khaled Israel disse ainda que mais de 100 mil caminhões de ajuda humanitária entraram em Gaza desde o início da guerra —uma média de 146 por dia, abaixo da quantidade mínima recomendada pela ONU, de 400 a 500—, e que nas últimas semanas "um enorme fluxo de ajuda inundou o território com alimentos básicos". As mortes de palestinos causadas por inanição podem acarretar acusações de crimes de guerra, afirmou o Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos, Volker Turk. Já o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse que "o desastre da fome produzida pelo homem em Gaza não pode ficar impune". Esse marco —a primeira vez que a IPC confirma uma fome no Oriente Médio— deve aumentar a pressão internacional sobre Israel, que trava uma guerra contra o grupo terrorista Hamas em Gaza desde o ataque terrorista de 7 de outubro de 2023, que deixou mais de 1.200 israelenses mortos. A ofensiva israelense matou mais de 61.500 palestinos, segundo números do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas. Israel afirma querer tomar toda a Cidade de Gaza para dominar os redutos restantes do Hamas, o que, segundo especialistas, agravará ainda mais a crise de fome. Palestinos começaram a evacuar a cidade na quinta-feira em meio a bombardeios israelenses. (Leia mais abaixo) O que significa a fase 5 da IPC, segundo a ONU Falta extrema de alimentos: Pelo menos 20% das famílias enfrentam falta extrema de alimentos. Desnutrição aguda grave: Pelo menos 30% das crianças sofrem de desnutrição aguda. Alternativamente, para o IPC, este limear pode ser atingido com 15% de desnutrição aguda global (entre adultos e crianças) medida pela Circunferência Média do Braço. Mortalidade elevada: Ocorre um mínimo de 2 mortes não relacionadas a traumas (como por armas de fogo ou situação de combate, por exemplo) para cada 10.000 pessoas por dia. Israel inicia operação na Cidade de Gaza Exército de Israel avança sobre a Cidade de Gaza, e comunidade internacional repudia O Exército israelense iniciou os "primeiros estágios" da tomada da Cidade de Gaza, a mais populosa da Faixa de Gaza e já controla os arredores do local, anunciou o porta-voz Effie Defrin na quarta-feira. Mais de um milhão de palestinos estão refugiados na Cidade de Gaza, em campos de tendas, e muitos deles chegaram à cidade após serem deslocados pela guerra entre Israel e Hamas. A tomada da região, que prevê uma ampla operação terrestre com tanques, soldados e intensos bombardeios, integra plano para captura total do território palestino aprovado pelo gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, no início de agosto. Segundo Defrin, a nova ofensiva entrou em seus "primeiros estágios" após um confronto com o grupo terrorista Hamas, porém não deu mais detalhes. A operação militar na Cidade de Gaza e seus arredores será "progressiva, precisa e seletiva", explicou um comandante militar israelense nesta quarta. "Alguns destes locais são zonas nas quais não operamos anteriormente, onde o Hamas ainda mantém capacidade militar", detalhou. Algumas horas depois do anúncio israelense, o Hamas se pronunciou e afirmou que o plano de conquista de Gaza mostra o "desrespeito flagrante" de Israel pelos esforços de mediação. O grupo terrorista concordou com a proposta de cessar-fogo proposta pelo Egito e pelo Catar. Os planos israelenses de expandir a guerra em Gaza após 22 meses de combates e mais de 61 mil mortos provocaram críticas internacionais e forte oposição interna. Enquanto isso, os mediadores Egito e Catar esperam uma resposta oficial de Israel a uma proposta de cessar-fogo de 60 dias aprovada nesta semana pelo Hamas, que concordou em libertar metade dos reféns restantes. O gabinete de Netanyahu, no entanto, exigiu a libertação de todos os reféns, e não dá sinais de que queira implementar uma trégua no conflito. Israel já controla grande parte do território palestino. Arte/g1 Palestinos passam pelos escombros de edifícios destruídos, em meio ao cessar-fogo entre Israel e o Hamas, na Cidade de Gaza, em 6 de fevereiro de 2025. REUTERS/Dawoud Abu Alkas/Foto de arquivo

FONTE: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/08/22/agencia-onu-diz-ha-fome-generalizada-gaza-investida-cidade-de-gaza-israel-rejeita.ghtml


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